quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Os melhores de 2016

Foram exatos 500 filmes vistos em 2016 (incluindo na conta as temporadas completas de séries). Deste universo, pincei duas dezenas que compõem as listagens abaixo. Quem me conhece ou acompanhou o blog em seus tempos áureos de postagem semanal vai reparar um par de novidades. Este ano, criei uma hierarquia de preferência, citando a partir do último colocado na lista dos melhores, ao passo que a relação dos piores continua em sequência decrescente, ou seja, o pior continua na cabeceira (e novamente é brasileiro, aliás, há outros três nacionais acompanhando). A outra novidade é que, pela primeira vez, desde que comecei a organizar essas listas, o melhor filme que vi no ano não é uma produção recente. Sinal de que o cinema feito hoje é ruim? Depende do ponto de vista. Para mim, é apenas a confirmação de que a Sétima Arte é ampla demais e sempre reserva tesouros que cabem a nós, cinéfilos, descobrir.

Os dez melhores filmes que vi em 2016 são:

10- ERA UMA VEZ EM PALILULA
Apesar do roteiro fraco e da narrativa episódica, esta produção romena consegue se impor como uma das fantasias mais interessantes dos últimos tempos. Com uma galeria de personagens cativantes e situações que por vezes beiram o surreal (também com toques fellinianos), consegue criar um universo bem particular, que, transitando de um delírio a outro, mantém o interesse do espectador até o final.

9- A FAMÍLIA BÉLIER

A aparente simplicidade do roteiro esconde um desses pequenos grandes filmes que fazem a alegria dos cinéfilos. O desenho banal do modo de vida típico de uma cidade do interior francês vai ganhando força dramática que culmina em um final arrebatador ao som de "Je vole", clássico de Michel Sardou. Risos e lágrimas se misturam numa narrativa agradável emoldurada por magníficas locações. A protagonista foi finalista do The Voice francês. 

8- CHÁ DE SANGUE E FIO VERMELHO
A melhor animação que vi em 2016 passa longe das fofices comerciais da Disney e da Pixar, embora também seja uma produção norte-americana. Sombria, violenta e por vezes assustadora para crianças menores, essa fábula passada numa estranha floresta e estrelada por dois clãs de ratos antagonistas é uma metáfora das relações de poder e marca a excêntrica contribuição de Christiane Cegavske para o gênero, com um estilo que lembra muito o de Tim Burton. Em seu site, é possível assistir a esta e outras de suas criações.

7- O QUE ACONTECEU, SRA. SIMONE?
A primeira produção original da Netflix a ser indicada ao Oscar (pouca gente comentou isso na ocasião) vai muito além de simplesmente traçar um retrato e promover uma espécie de resgate da cantora Nina Simone. Monta um interessante painel sobre a luta pelos direitos civis na conturbada América dos anos 60 e 70.

6- CREPÚSCULO
Nada a ver com a série dos vampirados adolescentes. Este é um suspense policial húngaro que se desenvolve em clima lúgubre, por vezes sufocante, ampliado pela claustrofóbica fotografia em preto e branco. Carrega fortes influências do cinema de Bela Tarr (com quem o diretor Gyorgy Feher trabalhou várias vezes e aqui assina como consultor): lento, contemplativo, com uma trama que, se não soluciona o mistério de forma satisfatória, mantém o espectador hipnotizado pela beleza de suas imagens.

5- BR 716
Aos 80 anos, Domingos Oliveira esbanja a vitalidade de um adolescente com essa amorosa autobiografia visual, na qual relembra sua juventude em uma agitada e romântica Copacabana pré-golpe de 64. Apesar do roteiro algo caótico, o filme flui em ritmo contagiante, embalado por bela trilha sonora e emoldurado por uma belíssima fotografia P&B. Consagrado em Gramado, de onde saiu com quatro Kikitos, incluindo filme e diretor.

4- SINFONIA DA NECRÓPOLE
Nascido como telefilme na TV Cultura, onde foi exibido com outro título, A ópera do cemitério. Esta versão final amplia as potencialidades daquele primeiro, que era um média de 50 minutos, e, sobretudo, torna mais claro o relacionamento entre o casal de protagonistas. Embora bem inseridos na trama, nem todos os números musicais funcionam, mas há dois antológicos: o inicial, com os coveiros, e o último, à noite, no cemitério. Divertido, original e com ótimo roteiro, tratando de um tema sério com leveza e inteligência. 

3- DARLING
Terror para quem gosta de terror. Esta produção extremamente simples é altamente eficiente na construção da atmosfera opressiva. A fotografia em preto e branco faz ótimo uso dos contrastes chiaroscuros e reforça o clima de insanidade que se instala e vai num crescendo de tensão quase insuportável. O diretor Mickey Keating mostra que aprendeu direitinho com os mestres do Expressionismo Alemão e brinca de criar clima apenas com truques de luz e cortes abruptos, que intensificam o clima de desajuste e incômodo. Ponto alto também é o adequado uso dos recursos sonoros, que pontuam a narrativa como se fossem acordes de uma sinfonia de pesadelo. O roteiro explora de maneira inteligente o surrado clichê da “casa mal-assombrada”, abrindo as mais variadas interpretações: tudo por ser apenas alucinação da protagonista… ou não. Há também algumas referências a Roman Polanski (Repulsa ao sexo, O bebê de Rosemary, O inquilino) que ajudam a construir um clima ainda mais perturbador. Nem a ceninha de sangueira explícita atrapalha o resultado. Uma obra-prima, um presente aos fãs deste gênero que se tornou tão desgastado e maltratado nos últimos anos.

2- VIDA ANIMADA
Owen Suskind estava condenado a uma existência silenciosa por conta do autismo. Até o dia em que passou a interagir com o mundo repetindo frases e diálogos das animações clássicas de Disney, que assistia sem parar. Lição de esperança, uma fábula da vida real, que mostra o poder do cinema sobre nossas vidas e até que ponto é possível configurarmos o mundo como o conhecemos a partir da Sétima Arte. Pré-selecionado ao Oscar de Documentário.

1- HAPPY END


O melhor filme que vi em 2016 é uma produção tcheca de 1967, praticamente esquecida pelo tempo, mas que serviu de inspiração a Amnésia (2001) e Irreversível (2002), que no fundo lhe prestam reverência. Mas é ainda mais radical que seus sucessores. Primeiro filme da história a romper com a estrutura narrativa tradicional:  seu enredo é montado de trás para frente. Começa com a cabeça decepada do narrador e vai retrocedendo, explicando os motivos que o levaram àquele destino. Os diálogos ditos de forma integral ganham novo contexto e a irônica narração em off praticamente reconstrói uma existência, ainda que "invertida", em que o final feliz do título é, na verdade, o começo de tudo. Cinema de invenção no sentido literal, uma ousadia do diretor Oldrich Lipsky (de Lemonade Joe, 1964). 

E os piores de 2016? Bem, destes, quanto menos se falar, melhor...

GAROTAS - O FILME: Lixo nacional. Como é bom gastar dinheiro público!
RIO PERDIDO: Decepcionante estréia do ator Ryan Gosling na direção, homenageando David Lynch da pior forma, com uma trama sem pé nem cabeça.
QUEDA LIVRE: Curioso que uma produção tão rara de chegar aqui, como a da Hungria, tenha conseguido emplacar um filme em cada pólo. Mas lá também se faz filme ruim. Como esta comédia dividida em esquetes que simplesmente são incapazes de fazer rir.
IN MEMORIUM: Imemorável, e ainda por cima serviu de inspiração para a série Atividade paranormal.
O CHEIRO DA GENTE: Mais um pobre exercício de onanismo cinematográfico cometido por Larry Clark.
UMA ABELHA NA CHUVA: Tão chato quanto o romance homônimo escrito por Carlos de Oliveira em 1953.
PORTA DOS FUNDOS - CONTRATO VITALÍCIO: Até que provoca risos, mas se perde num excesso de baixarias e piadas chulas. Comédia brasileira moderna, enfim.
OS TARADOS: O pior dos piores filmes dirigidos por Francisco Cavalcante, ou seja, além do fundo do poço.
A VIDA PRIVADA DOS HIPOPÓTAMOS: Documentário sobre nada.
O FIM: Gerard Depardieu pagando mais um mico nesse suspensinho descartável do embusteiro Guillaume Nicloux. É o fim da carreira mesmo - e aqui, o fim da lista.

sábado, 2 de janeiro de 2016

Os melhores e piores de 2015

Dentre 489 filmes que vi em 2015, até que foi relativamente fácil chegar aos 10 melhores, o que prova duas certezas. Uma, que o nível do cinema feito atualmente não é mesmo dos mais animadores (e três deles não são novos). Outra, estou definitivamente muito chato e restritivo em termos do que é bom, do que me encanta ou surpreende. Difícil foi selecionar os piores, mas aí por excesso de opções. 

Pela primeira vez desde que faço essa lista, há três animações entre os melhores do ano e dois longas de ficção nacionais. E também pela primeira vez em muito tempo, nenhum filme brasileiro aparece na relação dos piores, o que não deixa de ser um fato a se comemorar.

OS MELHORES

AS MARAVILHAS: É italiano o melhor filme que vi em 2015. Com roteiro primoroso, que encontra apoio preciso nas imagens valorizadas por uma estupenda fotografia, Alice Rohrwacher (também roteirista e irmã de Alba, uma das atrizes) flagra um país em brutal processo de transformação, perdido entre a poesia do encanto surreal e a crueza da vida cotidiana. 

O PROCESSO DO DESEJO: Dobradinha italiana para os dois melhores filmes do ano. O sempre polêmico Marco Bellocchio realiza um profundo estudo sobre o desejo e as pulsões sexuais que movem os indivíduos, com inúmeras referências filosóficas embaladas em meio a obras de arte. Farto material para debate depois da sessão. Rodado em 1991, terminou injustamente esquecido pelo tempo, já que nunca saiu em DVD. Merece uma redescoberta urgente.

DIVERTIDA MENTE: Nunca antes nesse país... ops, nos filmes da Disney-Pixar, vi um roteiro tão maduro, tão rico em questionamentos e propício a incontáveis debates psicanalíticos quanto nessa aventura vertiginosa, repleta de humor e com momentos de pura emoção. Mais compreendido pelos adultos do que pelos pequenos, diverte todos os espectadores e tem um visual belíssimo e cheio de detalhes.

A FOTOGRAFIA OCULTA DE VIVIAN MAIER: A ambigüidade proposta pelo título se explica tanto na descoberta de um talento bruto da arte fotográfica quanto na própria construção de uma identidade particular. Curioso: nesses tempos de selfie, em que viver é se mostrar, Vivian Maier traçou um rumo improvável e viveu sem se registrar (em seu imenso acervo, não há uma única foto sua). Uma arte a serviço de uma existência. De fazer chorar.

PEANUTS, O FILME: Embora a técnica de animação esteja modernizada, acompanhando a evolução da área, a essência dos personagens e do próprio desenho se manteve inalterada, e felizmente tiveram o bom senso de não atualizar demais (ninguém usa celular, e o Snoopy continua escrevendo na sua velha Olivetti), o que garante plena identificação com seu público mais antigo. O roteiro não é perfeito, mas os fãs irão relevar e assistir com o coração. Uma delícia rever a turminha!

ANINA: Esta animação coproduzida por Uruguai e Colômbia tem traços simples, quase artesanais, mas de grande expressividade. A trama é direta, não perde tempo nem com enrolações, nem com explicações desnecessárias. Respeita a inteligência das crianças e agrada aos adultos. Um bombonzinho. 

BIRDMAN: Em um único e magistral plano-seqüência, Iñarritu anima um roteiro cheio de ironias e observações agudas sobre a difícil arte de interpretar. Uma ousadia técnica e narrativa vitaminada por inteligência, diálogos precisos e um saudável frescor.

BOI NEON: Gabriel Mascaro mostra evolução e maturidade como diretor, e acima de tudo como roteirista, nesta trama que mescla de forma admirável dois universos aparentemente incompatíveis, a vaquejada e o mundo da moda. Com visual bonito, conta com elenco afiado e bela fotografia.

QUE HORAS ELA VOLTA?: Se a Academia não gostou ou não entendeu a ponto de sequer indicá-lo entre os finalistas ao Oscar de Filme Estrangeiro, azar da Academia! O roteiro primoroso discute com precisão a nova ordem social que se impõe no país, sem panfletarismo e com emoção na dose certa. Ótimo elenco em uma história que também diz muito em suas cenas simbólicas (como o xadrez das xícaras).


A IMAGEM: Fechando a lista, esta produção de 1975 que aborda um tema raro e difícil - a relação D/s entre duas mulheres - tratando-o de forma séria e intensa, embora derrape em algumas cenas pornôs desnecessárias. Pode soar escandaloso e até risível para o espectador baunilha, mas é um dos melhores filmes a abordar a sempre polêmica questão do BDSM nas telas. Catherine Robbe-Grillet, esposa de Alain Robbe-Grillet, assina o roteiro sob o pseudônimo masculino de Jean de Berg!

OS PIORES

VISCERAL - ENTRE AS CORDAS DA LOUCURA: O pior entre os piores. Violência gratuita, grosseria e sanguinolência. E ainda comete o erro supremo de relacionar o bondage ao desequilíbrio mental. Nada se salva.
TUDO PARA FICAR COM ELA: Comédia bem chatinha, que se vale de situações pretensamente transgressoras para fazer graça, mas tudo resulta vazio, e nem um sorriso é capaz de arrancar do espectador.
SEM DESTINO: Keanu Reeves devia estar precisando muito de dinheiro ou estava devendo favores a um amigo diretor quando aceitou participar desse projeto sem pé nem cabeça, sem roteiro nem qualquer coerência. O título, aliás, é perfeito.
BATA ANTES DE ENTRAR: Mais Keanu Reeves, aqui fazendo a platéia sentir vergonha alheia em uma trama tão ruim que chega a ser constrangedora. É o fundo do poço - e o fim da carreira. Mas é menos violento do que costumam ser os filmes do diretor Eli Roth.
PER AMOR VOSTRO: Maçaroca italiana que desandou no exagero. Quase insuportável e impossível de assistir. Desperdício de Valeria Golino.
RANCHO SANGRENTO: Sangreira, torturas, mutilações, gritaria. Ou seja, (muito) mais do mesmo.
O AMANTE PSICOPATA: Como levar a sério um filme com este título? Elenco ruim, especialmente o protagonista, cheio de caras e bocas, roteiro previsível. Um tédio.
SÍNDROMES E UM SÉCULO: O tailandês Apichatpong Weeresathakul exagera no experimentalismo ao contar a mesma história passada em dois momentos diferentes. Apesar do visual bucólico e agradável ao olhar, tudo é muito desinteressante e cansativo.
ENFERMEIRAS MANÍACAS EM ÊXTASE: Com este título, devia ser no mínimo engraçado, mas é só uma bobagem pseudoerótica que se perde em arroubos de violência desnecessária e ainda tem a ousadia de terminar ao som de Beethoven - que deve ter se revirado no túmulo. Mas, como é da Troma, até dá para desculpar.
RESULTADOS: Supostamente uma comédia, só que não faz rir. Supostamente um drama, só que não aprofunda qualquer assunto. Supostamente um filme, só que é apenas uma perda de tempo que irrita o espectador. 

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Todos os indicados do Oscarito 2015

A principal novidade do Grande Prêmio Cinema Brasil, a ser entregue no dia 1º de setembro no renovado Cine Odeon, e cujos indicados foram conhecidos nesta semana, é o desenho da estatueta, o Troféu Grande Otelo. Embora seja entregue há 15 anos, somente agora ganhou uma versão que, crê-se, será definitiva. Gostei do formato, reproduzindo a figura do ator, mesmo que, de certa forma, comprove a subserviência da nossa Academia à de Hollywood, já que lembra bastante a estatueta do Oscar norte-americano. Mas é uma homenagem justa, que chega com bastante atraso e, pensando bem, não havia muita opção em termos de variedade.

A julgar pelos indicados, o ano de 2014 foi muito bom para o cinema brasileiro. Partindo dos cinco finalistas à categoria principal, dentre os quais o mais fraco, para mim, é justamente o recordista em nomeações, Getúlio, que concorre em 14 categorias, algumas múltiplas, de interpretação. Logo a seguir vem o dilacerante O lobo atrás da porta, com 12 indicações, seguido de Tim Maia (10) e o incompreendido Praia do Futuro (7). O último selecionado para representar o país no Oscar de Filme Estrangeiro, Hoje eu quero voltar sozinho, fecha o quinteto do prêmio principal, com 4 indicações, mas nenhuma de interpretação, o que considero um equívoco - mas, pensando bem, quando foi que a nossa Academia conseguiu acertar inteiramente nesse sentido? Por outro lado, dá para imaginar que a homenagem a José Wilker, indicado a Ator Coadjuvante por Isolados, vai acabar virando premiação, como já aconteceu há poucos anos com Cláudio Cavalcanti, igualmente por um filme pequeno e ruim.

Os indicados deste ano, em todas as categorias:

FILME
Getúlio
O lobo atrás da porta
Tim Maia
Praia do Futuro
Hoje eu quero voltar sozinho

FILME DE COMÉDIA
Júlio sumiu
Confissões de adolescente
O candidato honesto
S.O.S. Mulheres ao mar
Os homens são de Marte e é para á que eu vou
Tanta comédia sendo lançada nos cinemas e precisam indicar logo o ruim de doer Júlio sumiu? Não é possível que não houvesse coisa melhor, Academia!

DIRETOR
João Jardim (Getúlio)
Fernando Coimbra (O lobo atrás da porta)
Karim Ainouz (Praia do Futuro)
Daniel Ribeiro (Hoje eu quero voltar sozinho)
Carolina Jabor (Boa sorte)

ATOR
Tony Ramos (Getúlio)
Alexandre Borges (Getúlio)
Milhem Cortaz (O lobo atrás da porta)
Babu Santana (Tim Maia)
Matheus Nachtergaele (Trinta)

ATRIZ
Drica Moraes (Getúlio)
Leandra Leal (O lobo atrás da porta)
Fabíula Nascimento (O lobo atrás da porta)
Bianca Comparato (Irmã Dulce)
Déborah Secco (Boa sorte)

ATOR COADJUVANTE
Adriano Garib (Getúlio)
Cauã Reymond (Tim Maia e Alemão)
Jesuíta Barbosa (Praia do Futuro)
Antônio Fagundes (Alemão)
Babu Santana (Júlio sumiu)
José Wilker (Isolados)

ATRIZ COADJUVANTE
Thalita Carauta (O lobo atrás da porta)
Glória Pires (Irmã Dulce)
Zezé Polessa (Irmã Dulce)
Alice Braga (Os amigos)
Fabíula Nascimento (Não pare na pista)

ROTEIRO ORIGINAL
Getúlio
O lobo atrás da porta
Hoje eu quero voltar sozinho
Irmã Dulce
O menino e o mundo

ROTEIRO ADAPTADO
Tim Maia
Boa sorte
O menino no espelho
Confissões de adolescente
Mão na luva

FILME DE ANIMAÇÃO
O menino e o mundo
As aventuras do avião vermelho

FILME INFANTIL
O menino e o mundo
O menino no espelho
As aventuras do avião vermelho
O segredo dos diamantes
Os Caras de Pau em O misterioso roubo do anel

FILME ESTRANGEIRO
Boyhood Da infância à juventude (EUA)
O Grande Hotel Budapeste (EUA)
O lobo de Wall Street (EUA)
Clube de compras Dallas (EUA)
Relatos selvagens (Argentina)

FOTOGRAFIA
Getúlio
O lobo atrás da porta
Praia do Futuro
Irmã Dulce
Trash – A esperança vem do lixo

DIREÇÃO DE ARTE
Getúlio
O lobo atrás da porta
Tim Maia
Irmã Dulce
Trinta

FIGURINOS
Getúlio
Tim Maia
Praia do Futuro
Irmã Dulce
Trinta

MAQUIAGEM
Getúlio
O lobo atrás da porta
Tim Maia
Irmã Dulce
Boa sorte
Alemão

TRILHA SONORA ORIGINAL
Getúlio
Irmã Dulce
Trinta
Brincante
Trash – A esperança vem do lixo

TRILHA SONORA
Tim Maia
Os amigos
A farra do circo
Dominguinhos
Copa de elite

MONTAGEM
Getúlio
O lobo atrás da porta
Praia do Futuro
Hoje eu quero voltar sozinho
Boa sorte

EFEITOS ESPECIAIS
Tim Maia
Irmã Dulce
Alemão
Trash – A esperança vem do lixo
Rio, eu te amo

SOM
Getúlio
O lobo atrás da porta
Tim Maia
Praia do Futuro
Alemão

DOCUMENTÁRIO
A farra do circo
Dominguinhos
Brincante
Tim Lopes – Histórias do arcanjo
Olho nu

MONTAGEM DE DOCUMENTÁRIO
A farra do circo
Dominguinhos
Brincante
Tim Lopes – Histórias do arcanjo
O mercado de notícias

DOCUMENTÁRIO CURTO
Do petróleo e do cinema
Efeito Casimiro
O canto da lona
Se essa lua fosse minha
Sioma, o papel da fotografia

CURTA-METRAGEM
A era de ouro
Nua por dentro do couro
O caminhão do meu pai
O filme de Carlinhos
Voltando pra casa

CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
A pequena vendedora de fósforos
Edifício Tatuapé Mahal
Guida
Miroca e seu cuco caduco
Viagem na chuva

quinta-feira, 21 de maio de 2015

O jogo do assassinato e da solidão

O medo do goleiro diante do pênalti (1971)
Muitos anos antes de se tornar o cronista estrangeiro das neuroses internas que corroem a sociedade norte-americana atual, vitimada pela paranóia do terrorismo, o alemão Win Wenders concebeu um interessante estudo sobre os efeitos do medo no ser humano, ao levar para as telas o romance homônimo de Peter Handke, O medo do goleiro diante do pênalti, publicado no Brasil pela Brasiliense em edição conjunta com a novela Bem-aventurada infelicidade. Descartando as implicações políticas de suas produções mais recentes, o diretor conseguiu ser universal sem precisar se afastar de sua aldeia.

Joseph Bloch é goleiro de um pequeno time da segunda divisão. Durante uma partida, ele discute com o árbitro por conta de uma falta mal marcada e é substituído pelo treinador. Suspenso pela diretoria do clube, resolve passar seus dias perambulando pela cidade. Vai ao cinema (assistir Faixa vermelha 7000, de Howard Hawks) e acaba se envolvendo com a bilheteira, Glória. Mesmo não sendo convidado, passa a noite na casa dela. Na manhã seguinte, sem motivo aparente, ele a estrangula, mas o fato parece não significar muita coisa para o goleiro, que continua vivendo como se nada tivesse acontecido. Acompanhando a repercussão do crime pelos jornais, ele se muda para a pensão de uma amiga e fica apenas à espera de ser encontrado pela polícia. Cada vez mais consciente de seu destino, deixa aflorar seu sentimento de culpa por meio de tiques e uma hiperatividade latente que, no entanto, não o leva a lugar algum. Seu nervosismo é fruto da certeza de que seus dias de liberdade estão contados: ser descoberto é apenas uma questão de tempo.

Goleiro pensa que é artilheiro e banca o matador.
O filme parece muito simples na forma, mas deve ser visto com atenção pelo espectador, pois todo o seu sentido está implícito, subliminar. Wenders constrói quase uma fábula sobre o desconcerto de um homem comum acossado pela culpa e a certeza de uma falta cometida. A metáfora do goleiro como ser isolado, solitário, funciona de maneira óbvia. Ele simboliza uma espécie de flaneur fatalista, agindo como um fantasma urbano, evocando O estrangeiro, de Albert Camus. O tema da solidão humana já aparecia com força na obra do diretor, e seria ainda mais intenso em seus trabalhos posteriores, como Paris, Texas (1984), Asas do desejo (1987) e mesmo o recente Estrela solitária (2004). Bloch não tenta fugir em momento algum: sabe que não tem para onde ir, e que todas as fugas possíveis são inúteis. Está inexoravelmente preso à sua existência medíocre – o filme é todo centrado em cima de personagens os quais se convencionou chamar de losers (perdedores) do sonho americano. Este aspecto do filme pode desagradar muitos espectadores, bem como a lentidão da narrativa, evidenciando a imobilidade da situação e antecipando o destino do protagonista. Esse clima de desesperança é realçado pela trilha sonora, uma batida monocórdia, repetitiva, transmitindo a idéia de que nada sai do lugar.

O Estádio dos Assassinos. Mas aqui não tem 7x1.
Outro aspecto que pode causar estranheza é o nonsense de alguns diálogos, que, mesmo assim, conseguem ser brilhantes em alguns momentos, especialmente quando criticam a falta de comunicabilidade entre as pessoas – outro assunto recorrente na filmografia do diretor. Ninguém está interessado em entender ou ser entendido: as pessoas apenas vivem, vez por outra esbarrando em problemas externos, sem que, contudo, se sintam atingidas por eles.

Visto hoje, o filme ganha uma dimensão ainda maior se lembrarmos do caso do goleiro Bruno, ex-Flamengo, que permenece encarcerado em Minas Gerais suspeito do assassinato de sua amante, a modelo Eliza Samúdio, em 2010. Em um rasgo de humor negro e politicamente incorretíssimo, seria de se imaginar que ela tenha assistido a este filme algum tempo antes do crime e, tal qual Bloch, se convencido de que poderia escapar da lei. Talvez não tenha visto até o final.

É um dos bons trabalhos de Win Wenders que merece ser conhecido. Infelizmente, foi ignorado pela distribuidora Europa, quando do lançamento de vários títulos do diretor em DVD, e permanece só podendo ser visto em VHS ou garimpado na rede. 

quinta-feira, 14 de maio de 2015

O som da minha voz

Obediência (2012)
Tinha lido alguns elogios a este filme de nome bem simples (mas para o qual inventaram uma tradução inadequada para o original, "Compliance", algo como submissão, complacência ou em observação) e fui assisti-lo com grande expectativa. Embora o resultado final seja até certo ponto satisfatório, teve um detalhe básico que me incomodou muito e que me atrapalhou um tanto na apreciação da história e, sobretudo, na forma como se desenvolve.

Tudo indica que vai ser mais um dia comum no ChickenWich, uma lanchonete genérica do KFC, especializada em frango: os funcionários vão chegando aos poucos, a gerente Sandra confere as mercadorias e descobre que não terão picles nem bacon porque houve um erro de pedido, a adolescente espevitada Rebecca se gaba dos três namorados que têm ao mesmo tempo enquanto se arruma. Tudo na santa paz. Um telefonema no meio da tarde, contudo, põe fim a essa normalidade. Alguém que se identifica como policial diz que foi feita queixa contra uma das funcionárias, acusada de roubar dinheiro da bolsa de uma cliente que acabou de sair do local. Rebecca (Becky) é então detida nos fundos do depósito e passa  a ser confrontada pela sua chefe, inflamada pelas acusações feitas pelo suposto policial. Ela é obrigada a se despir, ficar sob a vigilância de outros funcionários homens, tudo comandado pelo telefone durante horas e sem perspectiva de solução, sem contar com qualquer simpatia ou compreensão de mais ninguém. Até que a situação vai se tornando mais tensa, e o que parecia uma queixa formal se transforma em crime de assédio e estupro.

Não sei se vale a pena resguardar o truque do roteiro, porque lá pelo meio ele se revela (mas não vou contá-lo aqui, fiel ao meu princípio de evitar spoilers), mas não é difícil o espectador perceber que alguma coisa ali está muito mal-contada, algo não encaixa na história. A partir dessa percepção, é possível imaginar miríades de opções que expliquem aquela situação, todas válidas, mas, infelizmente, nenhuma se enquadra no caso em questão.

Na lanchonete de frango, fazem galinhagem com a funcionária.
O grande problema do filme, para mim, porém, está logo no início, um equívoco de comportamento que chega a irritar: ninguém parece perceber o absurdo da situação! Uma garota é acusada de roubo, mesmo a distância, sem ninguém para reconhecê-la, é interrogada, encarcerada, revistada (sic), tudo sem nem sombra de qualquer presença policial, a não ser uma voz, e ninguém questiona, ninguém procura averiguar a veracidade da coisa, tá falado e pronto! É o pânico absoluto que move os personagens a se comportarem como autômatos? A simples menção do nome "polícia", mesmo que não haja evidência alguma de confirmação, é suficiente para causar transtornos e fazê-los agirem feito imbecis. Respeito à autoridade é uma coisa, mas lavagem cerebral é outra. Sinceramente, para mim, é difícil comprar essa história, quando um mínimo de descortino e lucidez resolveria o caso. É o que faz um dos personagens, o único que parece pensar direito e que aparece pouco na trama, para desespero da lourinha, que não sabe o que fazer nem com quem contar para se safar daquela situação. 

O roteiro do também diretor Craig Zobel é baseado em uma dezena de casos semelhantes, ocorridos em diversas lanchonetes nos Estados Unidos. Não deixa de ser assustador pensar que a situação se repetiu com freqüência sem que nada fosse feito ou ninguém tomasse ciência do que acontecia de fato. Ann Dowd (da série The leftovers), que faz Sandra, ganhou prêmio de atuação do National Board of Review, mas o melhor desempenho é mesmo o de Dreama Walker como a assustada Becky. 

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Festival do Rio 2015 define suas datas

Os cinéfilos do Rio e do país já podem reservar em suas agendas. O Festival do Rio de 2015 ocorrerá entre 1º e 14 de outubro. O anúncio foi feito na tarde da última quarta-feira (6/5) pelos organizadores. Normalmente iniciado no final de setembro, o evento teve seu período alterado em virtude do Rock in Rio, cujas datas se chocavam com o calendário original. O último final de semana de shows coincidiria com o primeiro do Festival do Rio e, como acontece desde 2011, optou-se pelo adiamento em uma semana da maratona de filmes.

Freqüento o Festival há mais de dez anos e, que me recorde, é a primeira vez que a data é anunciada com tanta antecedência, com praticamente quatro meses. Isso nos dá a esperança de que tudo seja mais e melhor organizado este ano, principalmente em relação à venda antecipada, e que os detentores dos passaportes tenham alguma preferência para garantir suas entradas. Espera-se, também, que não se observem os velhos problemas de todos os anos, quando o sistema sempre acusa alguma falha de comunicação com os cinemas que, mesmo fazendo parte do circuito, nunca aparecem no mapa na hora da troca de ingressos.

Imagina-se também um evento especial, porque o Grupo Estação, organizador principal e fomentador do Festival, está completando 30 anos em 2015 e acabou de se recuperar financeiramente de uma grave crise que o pôs à beira da falência. É a hora de comemorar. E nada melhor do que presentear a nós, cinéfilos e freqüentadores das salas do Grupo, com um Festival caprichado, tanto na programação quanto nos serviços oferecidos. Esperemos.




quinta-feira, 30 de abril de 2015

Dez tons de BDSM nas telas

Talvez impulsionado pelo sucesso mundial da adaptação para as telas de Cinqüenta tons de cinza, o jornal britânico The Guardian publicou em seu site, há algumas semanas, uma curiosa lista dos dez melhores filmes que têm o BDSM como tema. Já natualmente restritiva, a relação preferiu destacar os títulos mais comerciais e conhecidos do grande público, excluindo outros mais alternativos que tratam do mesmo assunto. Ficaram de fora, por exemplo, Bettie Page (2005) e A imagem (1975), bem como qualquer filme japonês estrelado pela Christina Lindberg nos anos 70. Embora interessante, portanto, a lista privilegiou o aspecto menos escandaloso e mais popular do tema.

Eis a relação dos dez mais, em ordem cronológica.

A BELA DA TARDE (1967) - Talvez o único da lista que mereça ser considerado um clássico de fato, freqüentemente citado como um dos grandes filmes de todos os tempos e apontado por muitos como a melhor obra de Luís Buñuel. De tão conhecida, a história já virou até letra de música do Alceu Valença. Uma esposa reprimida no casamento se liberta sexualmente ao começar a freqüentar um prostíbulo, toda tarde. Catherine Deneuve, no auge da beleza, já abre o filme em uma cena de bondage.

O PORTEIRO DA NOITE (1974) - Em 1957, uma sobrevivente do regime nazista se hospeda em um hotel de Berlim e descobre que seu antigo torturador agora trabalha como porteiro do local. Tem início uma relação profundamente perturbada, pontilhada de ressentimentos e pequenas vinganças pessoais. O filme mais famoso da diretora Liliana Cavani se desenvolve em clima pesado e soturno para contar uma história de amor torto e doentio. Intensos desempenhos de Dirk Bogarde e Charlotte Rampling.

MAITRESSE (1975) - Acabou de sair em DVD este drama erótico dirigido na França pelo iraniano Barbet Schroeder. Um ladrãozinho barato (Gérard Depardieu) invade a casa de uma dominatrix (a suíça Bulle Ogier), se apaixona por ela e tenta tirá-la dessa vida. Ela reluta... será que o amor é mais forte que uma chicotada? Roteiro sério trata o fetiche com respeito, mostrando que uma domme pode ter uma vida tão comum quanto qualquer dona de casa. Atenção: há uma aflitiva cena de tortura genital que pode causar desmaios no mais macho dos espectadores.

NOVE E MEIA SEMANAS DE AMOR (1986) - O filme que fez de Kim Basinger o maior símbolo sexual dos anos 80, que a lançou à fama, embora pelos motivos tortos; ela teve de esperar 12 anos para ser reconhecida pelos seus dotes interpretativos ao ganhar o Oscar de Atriz Coadjuvante por Los Angeles Cidade proibida. Foi também a confirmação do talento visual do diretor Adrian Lyne, que manteve uma sobrevida no cinema até 2002, quando assinou Infidelidade e depois se retirou, desgostoso com tantas críticas negativas que vinha recebendo. Basinger e Mickey Rourke formam um casal de muita química na tela, e protagonizam uma cena que se tornou antológica, com os ingredientes da geladeira.

CRASH  ESTRANHOS PRAZERES (1996) - Polêmico à época de seu lançamento, foi uma das últimas excentricidades dirigidas por David Cronemberg antes de trilhar um caminho diferente na carreira que, mesmo assim, lhe renderia mais um título na lista (veja adiante). Adaptação literal do romance de J. G. Ballard sobre pessoas que se excitam sexualmente com acidentes de trânsito e suas conseqüências físicas.

CLUBE DO FETICHE (1997) - Provavelmente o menos conhecido da lista, até por nunca ter saído em DVD por aqui, esta comédia erótica mostra os dramas pessoais e cotidianos de uma dominatrix profissional, tendo como pano de fundo os bastidores de um clube erótico freqüentado por fetichistas de diversas naturezas. Guinevere Turner, que faz a protagonista, é até hoje uma figura bastante conhecida do universo BDSM de Londres.

A PROFESSORA DE PIANO (2001) - Outra provocação do sempre inquieto Michael Haneke, adaptando romance de Elfriede Jelinek (ganhadora do Nobel de Literatura em 2004), publicado aqui pela Tordesilhas como A pianista. Mais uma grande atuação de Isabelle Huppert, que vive a perturbada instrutora do título, uma mulher fatiada entre seus desejos e obsessões e que descarrega em seus inocentes alunos toda sua angústia sexual.

SECRETÁRIA (2002) - Antes de Christian Grey arrancar suspiros das platéias femininas mundo afora, já houve um homônimo que alcançava o mesmo resultado, e de forma bem mais eficaz. Uma jovem consegue emprego de secretária de um bem-sucedido advogado, Mr. Grey, e, ao descobrir que ele tem uma natureza dominadora, se deixa seduzir pelo novo mundo, tornando-se sua escrava. Mais romance e menos sensacionalismo sadomasoquista espalhado em um roteiro que trata o fetiche de forma séria e adulta. Visto hoje, o filme acabou ganhando uma piada inevitável para os fãs da série The blacklist por conta de presença de James Spader: o passado de Raymond Reddington, quem diria, guarda um segredo sexual obscuro! Será que a inocente Lee Holloway (Maggie Gyllenhaal) foi a "procurada nº 1"?

UM MÉTODO PERIGOSO (2012) - A trama acompanha a complexa relação entre os pais da psicanálise Sigmund Freud e Carl Jung e uma das primeiras mulheres psicanalistas da história, Sabina Spielrain. Um triângulo amoroso com direito a desejos pervertidos conduzido com sobriedade e frieza por David Cronemberg, aqui já liberto da fama de diretor maluquinho e maldito.

A PELE DE VÊNUS (2014) - Ainda inédito no Brasil, o último filme de Roman Polanski é uma competente adaptação de um clássico da literatura erótica, A vênus das peles. Trancados em um teatro após uma sessão de ensaio, diretor e atriz principal de uma peça discutem sobre diversos assuntos, invertendo os papéis sociais e sexuais que lhes são normalmente conferidos. Um duelo de interpretações entre Mathieu Amalric e Emanuelle Seigner.